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domingo, 18 de maio de 2014

“PSDB É QUADRILHA ORGANIZADA PARA VENDER O PAÍS”

doria



Jornalista Palmério Dória diz que ex-presidente tem sorte de não sofrer mesmo destino de Carlos Menem e Alberto Fujimori, ex-presidentes que hoje estão presos

“Mensalão é pouco perto da emenda da reeleição”
Vamos comparar o mensalão à emenda da reeleição. Houve blindagem da imprensa ao presidente Fernando Henrique Cardoso? O sr. acha que o caso da emenda mereceria tanta repercussão quanto o mensalão?
É exatamente o inverso. O caso do mensalão é café pequeno perto da questão da emenda da reeleição, se pegarmos o volume de gente envolvida, as filas de parlamentares se vendendo, segundo diz Pedro Simon [senador pelo PMDB-RS], por exemplo. O mensalão está sendo reavaliado. O próprio Elio Gaspari [jornalista], em sua coluna, disse que, perto da história do propinoduto, o mensalão é café pequeno. Os números começam a aparecer. Sempre digo que os tucanos roubaram em um padrão galáctico. Só computação quântica pode chegar perto dos valores que houve em São Paulo, na privatização — para comprar a reeleição de FHC, porque não dá para separar as coisas, é como suplemento de jornal, as coisas estão unidas e coesas.
Sobre o propinoduto, a imprensa sabia do escândalo do metrô de São Paulo e fingia que não sabia…
Guardou [a imprensa] como o quarto segredo de Fátima…
Então, quando a “IstoÉ” publicou o caso, inicialmente a imprensa tentou desacreditar a investigação, sugerindo que era uma coisa política. Depois, os veículos noticiaram, alguns até dando manchete, como se nada tivesse sido publicado antes sobre o caso. A questão do metrô de São Paulo é, de fato, uma grande corrupção?
Não é uma coisa nova. O começo dessa história é com a Tejofran [conglomerado da área de infraestrutura], uma espécie de “guarda-chuva” de Antônio Dias Felipe, sócio de Zuzinha [Mário Covas Neto, filho do ex-governador de São Paulo Mario Covas, morto em 2001] e compadre do ex-governador Mário Covas. A Tejofran “garfava” mil contratos e depois terceirizava. No livro há o caso Siemens, o momento exato em que Renan Calheiros [senador pelo PMDB-AL) sai disparando do governo FHC, dizendo que Zuzinha era “a chuva ácida que iria erodir a biografia de Mário Covas”.
Todo esse escândalo remonta àquela época. Naquele período o jogo foi armado, os contratos todos. Em meu livro há o começo do caso Siemens e foi quando se rasgou a fantasia em torno da figura santificada de Covas. A Tejofran tem contrato de pedágio, passaporte, trem, tudo, enfim, é mesmo um guarda-chuva. Pegam os contratos e depois os distribuem. Acho que a origem do propinoduto está aí. Depois, aparece essa questão da imprensa. Precisou que a “IstoÉ” lançasse mil denúncias terríveis para que as pessoas vessem e reconhecessem. É o que eu digo: os tucanos são imbatíveis no quesito “roubalheira”.
Não estou dizendo que é lícito, porque todo roubo é roubo. Mas quando se compara o apartamento de R$ 20 milhões de Antonio Palocci [ex-ministro do Planejamento no governo Lula] a tudo isso que o PSDB protagonizou vê-se que há outra escala de roubo. No caso do campo de Libra dá para perceber. Não se pode comparar privataria a partilha. No caso de Libra, não estou vendo nenhum ladrão desse padrão planetário — daquele que domina paraíso fiscal, domina offshore etc. —, gângster mesmo. É claro que dá certa tristeza ver em um leilão desses alguém como Edison Lobão [ministro das Minas e Energia], mas sabemos que não é ele quem decide, que há alguém por trás dele. No tempo do PSDB no governo, era uma quadrilha organizada para vender o País. E venderam. No caso da Petrobrás, por exemplo, só não venderam o “mastro”, mas todas as condições para enfraquecer a empresa, para torná-la vulnerável, vem daquela época.
Mas e a compra daquela usina nos Estados Unidos por Sergio Gabrielli [ex-presidente da Petrobrás], o sr. não vê problema?
Sim, vejo um problema sério, mas gostaria de me ater ao livro, até porque eu não sou especialista em petróleo. O entrevistado principal do livro na questão de petróleo é Fernando Siqueira, que conta passo a passo como foi a tomada da estatal. FHC, já como ministro da Fazenda de Itamar Franco, cortou 52% do orçamento da Petrobrás, para já dizer a que tinha vindo.
Já era a preparação para a privatização?
Quando FHC entrou, a Petrobrás tinha 5 mil fornecedores. Foram desindustrializando e fatiando a empresa para vender. Queriam criar unidades para ir privatizando uma a uma. Foi naquela época também que houve a quebra do monopólio. Siqueira diz mais ainda: que Lula e Dilma Rousseff “amarelaram”, na questão do leilão [do campo de Libra], abriram as pernas mesmo. São forças terríveis, estamos falando de geopolítica, é jogo pesado internacional. O jornalista Mauro Santayana diz, com todas as letras, que o Brasil, se tem uma riqueza desse tipo, já deveria ter todo um aparato para defendê-la, com Forças Armadas, caças etc. Mas FHC vendeu até a segurança nacional, ao assinar o tratado de não proliferação e, de cara, já beneficiou os americanos, com o Sivam [Sistema de Vigilância da Amazônia] passado à empresa Raytheon, dos EUA. Venderam o espaço aéreo. Toda a fragilidade da Petrobrás hoje advém disso tudo, como diz também Mauro Santayana.
Do ponto de vista político, quais são os principais beneficiados com esse negócio de privatização?
Só o fato de não ter americanos na partilha, já é uma coisa fantástica, mas as pessoas reclamam dos chineses. Só que os chineses nunca tentaram nos invadir; os americanos, em 1964, estavam prontos para invadir o País se houvesse reação ao golpe. Tem um ponto interesse, que está na entrevista com o Guilherme Estrela à “Folha de S. Paulo”, quando ele conversou com a Graça Foster, dizendo que em 2015 a Petrobrás estaria preparada para fazer a exploração do pré-sal sozinha. A Dilma chegou a falar que seria um crime privatizar o pré-sal — e veja que não estou confundindo privataria com concessão ou partilha.
Mas pense bem: em 2014 teremos eleição. Já pensou essa riqueza na mão dos tucanos, a festa que seria? Temos de ponderar isso, as urnas estão vindo já e a Dilma pode ganhar ou perder, como todos os outros três candidatos. Nisso estou considerando candidatos Eduar­do Campos (PSB), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB). E quem eles representam? A Marina está andando a tiracolo com André Lara Resende [economista com PhD pela Uni­ver­sidade de Massachusetts (EUA)]. Ela ainda falou que é capaz de fazer “gestos teatrais” — as palavras são dela — para devolver o País ao chamado ajuste, que envolve arrocho salarial, de­semprego e outras questões. Aécio está fazendo aquela mes­ma entrega a domicílio nos Es­tados Unidos. Ele foi a Nova York e fez o mesmo discurso de FHC quando foi eleito, entregando o País aos piratas. Já Eduardo Campos fala de ajustes fiscais parecendo falar que vai fazer justiça com as próprias mãos.
Nisso aí, a turma de FHC está, na verdade, com as três candidaturas. É um jogo pesadíssimo.
Imagine, então, eles ganhando a eleição. Aí, em 2015 a parada é outra. Se você se lembra, David Zylbersztajn [primeiro diretor-geral da então recém-criada Agência Nacional do Petróleo (ANP), em 1998, liderou a quebra do monopólio da Petrobras na exploração do petróleo no Brasil], vendeu uma parte de Libra por R$ 250 mil, ou coisa assim. Isso não esteve nas mãos dos tucanos, só que eles não sabiam disso. Aliás, hoje nem teria a Petrobrax, não haveria nada, porque ela é para vender a Petrobrás, e isso eu não vi em nenhum lugar até agora.
Já estaria vendida a Petrobrás inteira, o Banco do Brasil, a Caixa Econô­mica, porque a briga toda de hoje em dia é questão de juros. Todos os candidatos estão vindo com a história de subir os juros no nível do mandato do FHC, porque eles não aguentam essa inclusão. Eles odeiam o Bolsa Família, como odeiam a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica. E eu estou falando do mais perigoso deles, que está voltando com Eduardo Campos, que é Jorge Bornhausen [ex-presidente do DEM, hoje sem partido]. ACM [Antonio Carlos Magalhães, ex-governador, senador pela Bahia e uma das maiores lideranças da direita no País, morto em 2007] não é nada perto dele.

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